sexta-feira, 31 de julho de 2009

Aviso do coração

O coração é eterno aprendiz.
Não pensa para dizer, mas sente o que diz.
E lá vai na batucada da vida,
em cada batida, forte tambor,
ou leve tamborim, vai cantando
ou chorando, alegrias ou mágoas, assim:
Ame-me mesmo ignorante ou ingênuo,
mesmo traquina e malandro,
mesmo dando trabalho.
Preciso sentir-me amando e amado,
para continuar batendo e você vivendo.

Canto de alerta

Hoje cantarei um canto triste,
como pássaro que em vão procura
seu par, por entre folhagens, galhos,
muros, ninhos, campos floridos ou agrestes.
Hoje cantarei um canto triste,
como o rio caldoso que virou filete de água,
por que a seca chegou.
Hoje cantarei um canto triste,
como dançarina que perdeu as sapatilhas,
e naquela noite não dançou.
Hoje cantarei um canto triste,
como aquele dia chuvoso que
êle despediu-se dela e nunca mais voltou.
Hoje cantarei um canto triste,
como clamor aos que ainda insistem,
em achar que paixão é o mesmo que amor.
Paixão chega, queima ardente, mas vira cinzas
e com o tempo se desfaz...
Amor não queima, chega devagarinho,
vai tudo iluminando e nos dá, por fim,
o verdadeiro milagre da paz...

sábado, 18 de julho de 2009

Pedido

Eis que ele aparece...
Como sempre reluzente e belo,
majestoso, ardente.
Dou-lhe meu corpo por inteiro:
Venha banhar-me, peço-lhe clemente.
E ele, fazendo-se difícil aparece
e se esconde...
Como podes ser assim tão maravilhoso
e ao mesmo tempo...maldoso!
Mísera mortal, não vês que sou um deus?
A mim, tens que reverenciar,
se me queres a te iluminar.
Tú vencestes, venhas quando queiras,
mas venhas...não deixe mais meu corpo
congelar...deus apolo...sol dos mortais.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Uma tarde

Fecho os olhos, preciso criar recantos,
com arbustos verdes, flores multicores.
Preciso criar sonhos doces de acalanto,
para chamar meus amores,
espalhados por quatro cantos.
Ei de chamá-los, se virão não sei,
se lembrarem, talvez,
não importa, também não os guardei,
apenas, quero , agora, ve-los outra vez.
Caprichosa, sim, por que não?
Vaidosa, sim, me acharão.
E daí? Gargalho essa idéia,
que a outros pode ser loucura,
para mim, apenas, fantasia
de mulher menina que procura,
inventar algo mais interessante,
numa tarde que se faz maçante!

Frio intenso

Esse frio insuportável,
gela meu corpo,
esfria minha alma,
deixa-me amarga,
tira-me o amável,
tira-me o encanto,
joga-me ao canto,
torna-me instável.
Faltando o dourado sol,
curvo-me feito girassol,
encolhida no silêncio,
escuto o assobio do vento,
a torturar-me o peito,
que embora no leito,
não encontra nenhum feito
de braços que me esquentassem
e por certo me libertassem,
desse insuportável frio de fora,
mas muito mais intenso,
no dentro...!

terça-feira, 7 de julho de 2009

Bordados

Ontem fiz lindos bordados,
borboletas azuis voando,
passarinhos se beijando.
Dormí feliz.
Hoje, acordei irritada,
mal humorada, fociverando.
O que aconteceu, perguntei aflita:
Afinal, ontem meus dedos teceram,
coisas lindas, para o meu presente...
Ó que tristeza, alguém inconsequente,
enquanto eu dormia inocente,
desfez meu ontem e hoje estraga meu dia.
Preciso guardar melhor meus bordados.
E no silêncio da noite acalentá-los.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Mulher selvagem

Tiro do armário uma saia.
É rodada toda bordada.
Parece colchas de retalhos.
Descalça solto passos
para correr por atalhos,
ao som de um tambor,
que chama para uma roda,
roda de vida, roda animada,
roda que instiga, roda que roda.
E rodando levo minha saia,
pelos campos, pelas praias,
tudo faço, tudo importa,
e sedenta de minha origem,
solto uívos que se espalham.
Fogueiras iluminadas,
me aquecem e me enlouquecem,
soltando por fim, tudo que eu queria,
a linda liberta mulher selvagem.

Repintando

Pego a paleta, está cinzenta,
há muito não usada.
Cores misturadas ... indefinidas.
Tento limpar, mas está tudo ressecado,
passou tempo demais,
sem uso... encostada.
Coloco cores novas em cima,
das misturadas.
E na tela em frente,
bem displecente jogo pinceladas,
azuladas, vermelhas, laranjas,
verdes, violeta, rosa, amareladas.
Cada qual longe e outras bem perto.
Ao terminar, admiro o quadro pintado,
lá está tudo um pouco, de pouco tudo.
Passado, presente e futuro, se misturam.
Sinto-me bem...derramei o que passei,
faço ondas com várias cores no presente e o futuro...?
Ah! o futuro...deixei verde,
é que ainda plantarei no hoje,
suas sementes.

Bordando o Hoje

Não sei se choro ou gargalho,
preciso tirar o entalo que em
minha garganta cresce.
Que entalo é esse de que tanto falo?
Amor mal resolvido, saudade do que
pensei ser e não era?
Dentro de mim algo me diz:
Porque não parás de indagar?
Viva, o agora apenas, depois verás,
o choro limpar sua alma,
o entalo dissolvido,
alegrará seu coração,
soltando por fim,
contido grito:
Quero-me assim ,
assim, pensante, tola,
romântica, confusa,
alegre, triste,
chorona, risonha,
dependente de meus anseios,
independente de meus alheios,
e que se danem meus medos,
vou com eles conviver,
aprendendo que o amanhã,
virá, pior ou melhor,
dependendo dos bordados
que hoje faça em meu viver.