Desejo

Como não posso abraçar-te,
deixo escorrer pelos dedos,
o leve sabor dos meus beijos,
e quem sabe, desse jeito,
possa eu de alguma forma,
matar meus desejos,
insanos, embora humanos,
e sentir tua boca,
querendo a minha achar,
e aí saceada, desliso
para o impossível,
com frenesí loucura,
achando ter atingido,
o inatingível.

Só começar

Preciso de tua mão,
empresta-me um pouco.
Quero que junto à minha,
comecemos a escrever,
um pouco a cada dia,
um roteiro só teu e meu.
Não...Não sei o fim...
Não importa...
O que vai importar
é o começo, tranquilo,
sem tropeços,
a cada linha um beijo,
em cada beijo um sussurro,
em cada sussurro te ajeito,
a querer continuar...

Sem jeito

Quero-te do jeito que és...
Moleque menino,
homem crescido,
indeciso, desiludido,
bem ou mal amado.
Mas, quando me encontrares,
por favor...
Não fiques tão calado!

Olhos

Há tempos seus olhos
perderam-se no infinito,
junto aos meus...
Preciso matar a saudade,
de nossos olhos se encontrando,
voltando a sentir a felicidade
deles brilhando,
por estarem novamente,
se amando...preciso!

Noite boa

Hoje acordei toda enrolada,
entre lençóis e travesseiros.
Será que lutei a noite toda
com alguém?
Aí lembrei-me que sonhei
estar numa praia deserta
quando o encontrei...
Chegou de repente,
como onda na praia estourando...
Foi logo me beijando, me abraçando,
e pela areia fomos embolando,
até perto do mar...
Peguei os lencóis e travesseiros,
joguei-os longe...
Infeliz hora de acordar!

Insonia

Encontrei-a , ontem.
Tinha os olhos nevoados.
Perguntei-lhe: O que tens?
Esses olhos assim,
são de choro, um reflexo?
E ela, deixando lágrimas
escorrerem pelo rosto,
disse:Sim...como o humano
é complexo, intrigante,
arrogante, sem nexo...
Tudo sabe, tudo diz,
mas não sabe ser feliz...
Precisa disso, daquilo,
mais e mais e demais...
Estás vendo, eu mesma
estou portando-me como deusa
e não humana...
Cheia de erros, cheia de críticas,
Estás vendo, como abusa esta insana?
Calei-me...nada podia contestar,
sentí o meu rosto ruborizar...
Estaria ela falando dela,
ou seria recado para mim?
Levei este pensamento para a cama,
ó noite que pareceu não ter fim.

Metamorfose

Lembro-me quando já fui árvore,
cortaram-me, que dor...
Partiram-me em pedaços,
que tortura...
Amassaram-me, trituram-me,
que amargura...
Não sabia que passava,
fase de tranformação...
Dei-me disso conta,
quando uma criança pegou-me,
sorriu e abraçou-me.
Sou , agora, livro,
cheio de letras , imagens e cores.
Entendí, por fim, minhas dores.
Cada vez que alguém me procura,
folheando-me, levando-me,
com carinho e admiração,
sinto ter valido o sofrimento,
sou mais útil,
mais servil, do que na floresta,
que era apenas uma árvore,
entre outras mil.

Filosofando

Certo dia, alguém disse:
Passamos nossa infância,
ouvindo muitos nãos.
Depois, passado algum tempo,
começamos a ter direito de dizer:sim!
E em uma certa ocasião,
de tanto ouvirmos não,
resolvemos dizer...sim!
E poderá acontecer,
um eterno arrependimento,
do sim que foi dado,
quando deviamos ter dito:Não!
E começamos a almejar que o sim dito,
em época inoportuna, turbulenta ocasião,
possa, ainda, reverter-se, com mais consciência,
em um sim, saído sem censuras,
do mais puro sentimento que guardamos
para alguém especial, em nosso coração!

E daí?

Hoje, ela confessou-me um segredo.
No encontro acontecido e não esquecido,
o que mais ficou marcado em seu coração,
foi o encontro dele ao acariciar sua mão.
O beijo foi fulgaz...
Mas as mãos se acariciando,
deixaram digitais na alma,
que não se apagarão jamais.
Todos os dias, ela beija a mão tocada,
e percebe continuar apaixonada.
Ora, acrescentou-me ela,
e daí? Isto...deixa-me feliz!

Idade?

Outro dia, perguntaram-me
que idade eu tinha...
Se eu dissesse ninguém
iria acreditar...
Então, pus-me a pensar...
Consultei meu coração
e quedei-me resolvida...
Minha idade é e será sempre,
de uma alma recem-nascida!

Outra vez

Hoje sonhei que mergulhei,
num lugar lindo, pleno de coisas várias.
Era escuro, mas eu enxergava tudo.
Ví pérolas em ostras entreabertas,
golfinhos se beijando, peixes multicores,
com corais os enfeitando.
Fugí de tubarões e polvos,
Toquei tartarugas ovos chocando,
restos de um naufrágio já se esquecendo,
com o casco todo enferrujado.
Beijei um peixe dourado e... acordei.
Passei a mão pelo meu corpo,
estava molhado, a boca na minha
mão salgava...
Foi um mergulho
no mar...de amar!Quão feliz estava.
Quero sonhar, outra vez,
beijar aquele peixe dourado,
mais uma vez,
e acordar salgada de amar!

A busca

Sinto no meu peito um aperto
que não sei explicar...
Mistura-se tudo: saudade,
angústia, ansiedade.
Saudade do que outros criam
e me deixo afetar.
Angústia de querer entender,
de querer saber onde vou chegar.
Ansiedade que crio de tantos
porques que não sei responder.
Fico, então, a cismar...
Como o ser humano é complexo.
Deveríamos agradecer,
o sol, a lua, a chuva, as plantas e os animais,
poderíamos ser mais simples:
um beija-flor, uma borboleta,
voando de flor em flor...
Mas quero mais e mais,
aí , rastejo e me
entristecemos demais.
Quem sabe ainda aprendo,
deixar-me a correr como um rio,
que percorre seu curso, simplesmente,
chegando ao mar, tranquilamente.
Ó Força Universal, ensina-me a arte
de ser navegante e encontrar o meu cais.

Vai e vem

Entre esse vai e vem,
o mesmo caminho,
o mesmo atalho,
preciso mudar,
o caminho?
Ou o atalho?
Não sei...
Só sei que sairei
desse vai e vem.
Por certo encontrarei
outros caminhos,
outros atalhos,
mas não serão de vai e vem,
serão os que escolherei!

Blues

Hoje, ouvindo um blues,
senti-me impulsionada a vagar,
por rumos já conhecidos,
colhendo ramos a caminhar.
Mergulhei em meus sonhos
mais sofridos, mas queridos,
e continuei no embalo a vagar...
Mergulhei no espaço grande demais,
e derramei , um a um , meus ais,
que foram tornando-se azuis,
azuis, e eu querendo mais blues...
Abrindo meus braços , recebí meu cansaço
de tanto esperar.

O novo

Psiu...Ele acaba de nascer.
Receba-o com espírito de gratidão,
de fé, de esperança que tudo alcança,
quando sempre abrimos o coração!
Ele... o novo, somos nós que o criaremos,
então, preparemo-nos:
Aceite o inevitável,
agradeça o tangível,
mude rumos, se errares,
enfeite de ramos os altares.
Arrependa-se e recomeces,
todos os dias que amanheces.
E durmas tranquilo quando anoiteces...