segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

O anjo de cara suja

Leve chuvisco caia...
Apertei um pouco meu casaco,
não podia resfriar-me.
Continuei andando para
o rumo onde ia...
Parei, no entanto, ao ver
um vulto pequeno, remexendo
uma lata de lixo.
Aproximei-me por curiosidade.
Quem estará, nesta noite chuviscosa,
véspera de Natal, nessa mexida?
Foi quando o vultinho virou saltitante,
alegre, feliz, segurando algo que
encontrara.
Ao deparar-se comigo, disse:
Olha, moça, o que eu achei!!!
E olhando, ví uma carinha suja,
o narizinho escorrendo,
um leve casaquinho esfarrapento,
e duas mãozinhas igualmente sujas,
segurando algo...
Olhei mais perto...Ela disse: Não estás
vendo, é uma bonequinha de pano,
tudo o que eu queria! E continuou:
Papai Noel, coloca o que a gente pede,
em cada lugar estranho!
Quando percebí, estava ajoelhada,
abraçada a essa criança.
Nós duas chorávamos, ela, de contentamento,
eu, de espanto, tristeza e aperto no peito.
Ela olhou-me e disse: Onde Papai Noel
colocou o seu presente? Você já achou?
Movimentei a cabeça com afirmação e
com muita emoção , disse-lhe: Aquí!
Aqui? Também? E qual é o seu presente?
Já meia ensopada pela garoa e pelas lágrimas,
respondí: Você!
Eu? Sim, você doce criança, para ensinar-me
a crescer!!!
Ora, você é bem crescidinha!
Só de tamanho, querida, só de tamanho.
Minha alma , perto da sua, ainda é pequenininha.
Ela olhou-me interrogativa e , então, acrescentei:
Mesmo que não me entendas, prometa, que sempre
guardará esse coração alegre e saltitante, porque,
um dia, já crescida, por certo, irás, encontrar,
seu presente, guardado numa caixinha dourada,
e quando abrires, verás refletida num espelho,
a maravilhosa moça que te tornarás e ao teu lado estará,
uma boneca de pano, que hoje encontrastes em um lugar
estranho, que Papai Noel deixou.
E, por favor, quando isso acontecer, reze uma prece
para mim, e eu sorrirei ao lembrar, que este
foi meu melhor Natal: Aprendi que mais vale o
encantamento do coração do que ser fulana de tal.
Beijei-a e o anjo se despediu...

domingo, 20 de dezembro de 2009

Mal ou bem de artista?

Sinto ter mesmo alma de artista.
Acordo zoada, tudo me aborrece,
tudo me entristece, num entendo
nada...
É aflição, é angústia, uma misturada.
Fico zanzando de lá prá cá,
de cá, prá lá, sem me encontrar.
De repente, algo, dentro de mim,
acontece, desaguo a escrever,
tudo o que sinto, sem vontade
de parar...
E aí, tudo vai se acalmando,
por algum tempo,
até começar ...tudo de novo!!!

Enfim...

Às vezes sou mar encapelado,
ondas rebeldes que se atiram
em pedras ou
sou rio que corre, devagar,
sabendo que seu destino é o mar.
Às vezes sou brisa leve, tocando
bem de mansinho um rosto
com muito carinho.
Às vezes sou chuva fina, que escorre
pela vidraça, trazendo choro nos olhos,
de quem está em desalinho.
Às vezes sou gargalhada, alta forte,
de alguma palhaçada, que me lembro,
por ter dado bela escorregadela.
Às vezes sou refúgio de quem procura
alguém que possa entender o que
se esconde dentro dela.
Várias vezes preciso de alguém
que me segure no colo para que eu possa
ser criança e chorar, sem
vergonha de ninguém.

Companheira fiel

Seus olhos miravam e enxergavam,
mais do que viam.
Como conter, então, o que seu coração
sentia de prazer pelo que via?
Inventou um jeito de levar consigo,
coisas que marcavam e que teria
de deixar.
Colocou a máquina no prumo
e começou a fotografar.
E daí surgiu uma enorme paixão,
que nunca mais quis largar,
a cúmplice amiga, silenciosa e criativa,
companheira inseparável de todos os
lugares em que vai...

Santa Infância

Pergunto-me, porque nesta época,
onde há tanta festa, dá certa melancolia.
Fico a pensar, onde deixei, então minha alegria,
dos tempos de Natal.
Com certeza nos tempos de criança, onde tudo era pureza,
inocência e muita crença.
Esperar até a noite chegar, era terrível,
o coraçãozinho ficava a perguntar: Ele virá?
Recebeu minha cartinha? Será que fui boazinha?
Ah! Santa Infância...que falta você me faz!