sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Para tí, mulher

Por quê choras,
em teu rosto,
sem lágrimas?
Por quê fechas,
teu coração,
a quatro chaves?
Por quê escondes,
teu corpo,
em tantas vestes?
Solta-te das amarras,
que te emudecem,
abrindo teus lábios,
em doces canções,
onde em tua pele nua,
cor de lua,
anjos adormecem!

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Ela e o violão

Ela hoje acordou triste,
tristeza que parecia sem fim...
O que fazer pensava,
para poder mandá-la
de uma vez, longe de mim.
Olhou em volta, ninguém,
para consolá-la e ouvir:
Vem, estou aqui, meu bem.
Sentiu que seus olhos embaçavam,
iria chorar, outra vez?Outra vez?
Eis que viu lá no canto,
também abandonado, o seu violão.
Correu ao seu encontro,
agarrou-o contra o peito,
como quem agarra um galho,
sentindo-se num naufrágio.
Acariciou suas cordas, suas bordas,
dizendo-lhe bem baixinho:
Fiel companheiro, aí quietinho,
esperando que te toquem,
eu aqui no meu cantinho,
esperando por alguém,
que não vem...
Quem sabe juntos possamos,
esta dor aliviar...
Êle se deixa embalar,
ela começa a cantar:
Meu violão, meu amigo,
és meu consolo e abrigo,
cada acorde é um soneto,
que ouso dedilhar.
Já fostes árvore um dia,
mas alguém por ousadia,
fez de tí uma escultura,
para poder ao exibi-lo,
tirar alguém do exílio,
ou uma criança ninar.
Porisso és meu conforto,
meu segredo e meu porto.
Para tí me abandono,
faço de tí o meu dono,
e te peço , um consolo,
leva de mim essa tristeza,
num dá mais prá aguentar,
leva de mim essa tristeza,
num dá mais prá aguentar.
Continuando cantando,
a tristeza vai-se embora,
Ela e o violão, seu par,
com fé acreditando,
foi prá nunca mais voltar.
Hoje, ela dormiu sorrindo
e o violão assistindo,
seu doce ressonar.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Entre o Sol e a Lua

A tarde vem cumprimentando,
docemente, lentamente.
O Sol se põe.
A luz natural, já se faz tenue,
acendo uma artificial,
incomodativa, quase insolente.
Apago-a, deixando a penumbra entrar.
Ela alisa meu corpo, suavemente,
sinto carícia crepuscular,
a ela entrego-me totalmente.
Ajoelho e medito,
sobre tudo que falei,
ouví e acredito.
Mas há certos fatos,
que nos deixam em desatino,
podiam até ser boatos,
mas por mais que os alinho,
existe um tal destino,
que certamente começou,
quando o sol e a lua foram criados,
para nos deixar intrigados,
e sempre querer entender, o por quê?
Por quê? Por quê?
Hum...eis aí o grande mistério,
para nós meros mortais,
esperarmos ser chamados,
escolhidos e ao transpor os umbrais,
quem sabe, sossegaremos,
e nos contentaremos,
com o que somos ou fizemos,
havendo arrependimento,
de sempre ter o pensamento,
em querer saber demais.
Saio da meditação,
está escuro, é noite,
somos todos iguais!
A Lua surge.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Meditando

Hoje acordei vazia.
Vazia, sem valia,
perdida, esquecida,
amargurada, chorosa.
Parecia aquela rosa,
um dia, linda querida,
em outro, quase murchando.
Hoje acordei pensativa,
e muito me questionando:
Faço, não faço, esqueço,
ou deixo o vazio aborrecendo.
Sou bem contra grafismo,
mas aquele muro branco,
continua me atormentando.
Vontade de rabiscar,
riscar, enche-lo de apelos,
assim, quem sabe pelo menos,
essa raiva vou distilar...
Mas será que vai adiantar?
Então pergunto, o que faço,
continuo nesse embaraço,
nesse mormaço indefinido,
por mim ainda sofrido?
Eis que surge um sinal:
Saia do tormento abismal,
senta-te em algum canto,
junte as mãos em teu peito,
e comeces a meditar,
deixe que imagens fluam,
não segure nenhuma,
assim, sem amargura,
relaxa e te entrega,
a dimensão maior,
que te espera.
Silencie...
Solte apenas um som:
OM, OM, OM.OM.OM.
Mergulhes em teu interior,
encontrarás calor,
do verdadeiro amor,
que guardas dentro de tí.
A felicidade está aí.
Nunca a acharás por aí.
Silencie...
Ama-te com respeito,
e esse vazio de teu peito,
será logo preenchido,
e aí compreenderás,
quanto tempo tens perdido,
inutilmente a buscar,
o que já trouxestes contigo,
e jamais souberas achar.
Volte à tua consciência,
com humildade agradeça,
a nova etapa de vida,
o novo descobrimento:
é necessária a partida,
prá recomeçar.
Silenciando...
Meditando...
Sempre paz, encontrarás!
Plena acordarás,
serena dormirás.
O prumo é teu...
de ninguém mais!

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

A colcheteira

Há tempo, ando observando,
linda amiga, crochetando...
Ora faz pontos prá cima,
ora, os faz para baixo.
São todos lindos, eu acho.
Cria formas retas,
ou arredondadas...
E assim com agulha vai
tecendo, por dentro,
e pelas beiradas.
Nela deixa amores,
amargores, poesias,
prosas, dores, contos,
tecendo por ponto por ponto.
Uns são engraçados,
Outros, muito letrados.
Está fazendo uma colcha,
Talvez, até sem pensar.
Então, comecei a cismar,
quando ela acabar,
daquí a cem anos,
dela irá precisar,
para seus pezinhos esquentar.
E aí olhando, cada desenho,
dessa colcha bem tecida,
irá recordando sua lida.
Tudo está lá marcado,
anseio sufocado,
amores acabados,
amores resolvidos,
caminhos percorridos,
atalhos já olvidados.
Mas, nos lábios há de existir,
um sorriso bem feliz,
de ter sido aprendiz,
e ter seu saber doado,
do bem sempre a fazer.
A arteira colcheteira,
marota, ira dizer:
Valeu a pena viver!
Um côro de anjos,
para abençoar seu coração,
entoará linda canção:
Lalá,lalá,lalá...Lara, lara, larará!

Destino

Ela pensava , sentia
estar vivendo um grande amor,
por onde ia exalava,
de primavera esse odor.
Estava radiante, ensolarada,
não sabia mais o que fazia,
de tão feliz, gargalhava.
Só que um dia,
sentiu que o que pensava,
só em seus sonhos existia,
a princípio não entendeu nada,
e ficou com a alma cismada,
e perguntava, o que será?
Tantas lindas palavras,
tantas juras com fervor,
não era amor, ou fora dispensada?
Levou algum tempo essa dor.
Mas, depois de ler um conto,
que diz de escolhas, e caminhos,
de um tal de livre-arbítrio,
aí, a luz se fez e pronto,
saiu desse martírio.
Finalmente compreendera:
seu amor tivera medo,
de seguir seu coração,
medo do segredo,
optou pela razão.
Para ela, seria glória,
para êle a prisão.
Usou o livre-arbítrio,
tomou uma decisão!
Que belo conto,
que valiosa lição!
Fica para ela,
um conselho:
Quando outro amor vier,
vá devagar,
o caminho a percorrer,
vá de mansinho,
para poder aprender,
com muito tino,
que o destino,
é você quem faz,
ou desfaz...!

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Escuta coração

Ei, coração desavizado,
vai se apaixonando,
sem se quer me avisar,
diz ser pobre coitado,
quando não é entendido,
ficando amargurado,
e lá vou de arrasto.
Aí eu fico brava,
tú, assim, me maltrata,
sendo tão inconsequente,
ou até puro, inocente,
vai mesmo se machucar,
é triste ter que te curar.
Pergunta, prá mim te peço,
antes de se entregar,
Este sentimento é fim ou é começo,
vou dessa vez acertar?
Eu lhe direi cuidado,
não vá se entregando inteiro,
tenta sentir primeiro,
se as batidas são iguais,
se forem, então vais,
vou curtir o teu embalo,
prometo que nada falo,
tudo escuto, mais e mais...!

domingo, 17 de agosto de 2008

Camponesa

Sou camponesa,
pelos vales vou andando,
os passarinhos vão cantando
prá me cumprimentar.
Jogo beijo para todos,
mas há um mais formoso,
e seu nome é sabiá.
Meu vestido é comprido,
e e´todo colorido,
prá meu corpo enfeitar.
Sou camponesa,
descalça com pés na terra,
vou olhando lá prá serra,
toda verde, que beleza,
chega até arrepiar.
Na minha cesta colocando,
todas as flores do campo
que consigo encontrar.
Sou camponesa,
no riacho vou entrando,
prá meu corpo refrescar.
Quando o cansaço chega,
vou voltando lá prá casa,
o fogão já tá em brasa,
pro feijão cozinhar.
Pego concha, pego prato,
e sentada na rede,
olhando prá parede,
vejo, o seu retrato,
vestido de cidade,
cheio de gosto ,
dá tristeza, dá desgosto,
dá saudade desse moço,
que um dia me encantou.
Falava coisas bonitas,
me dava laços e fitas,
prá melhor me enfeitar.
Mas não conseguiu,
de verdade conquistar.
Sou camponesa,
o meu chão é verde,
o mais lindo tapete
que ninguém pode comprar.
Sou camponesa,
acordo com o sol nascendo
durmo com a lua aparecendo.
Não adianta, sou agreste,
meu perfume é da rosa,
que ponho toda dengosa,
no decote bem maneiro,
quando saio a namorar.
Saudade de você,
nessa parede, mas
prefiro minha rede,
para meu sonho embalar.
Tenho pena de você,
que largou este paraíso,
e acho de pouco ciso,
preferir ar poluído,
gente se empurrando,
gente se maltratando.
Mas você é da cidade,
tudo que digo é alarde,
jamais vai me entender.
Sou camponesa...
sou feliz no meu viver.
Quem duvida, venha ver!

Crer ou não crer

Hum...
Será???
Não sei.
Ou é?
Sei? Talvez!
Ela continua:
Me escuta...
Não tem lógica!
Ou tem?!
Êles devem saber...
Vou tentar...
Vou tomar...
Não é isso...
Não?
Não creio...
Tenho receio.
Vamos lá.
Tudo bem...
Tomei...
Me danei.
Deu alergia!
Ah! Você sabia.
Tinha razão.
Desculpe...
Me destes uma lição,
Jamais voltarei
a não acreditar,
em você...
Querida intuição!

sábado, 16 de agosto de 2008

O mar poetando

Hoje, o mar entristece
ao entardecer...
Seu maior apaixonado
acaba de falecer.
Quem o chamará de doce?
Só você, você...
Caymmi, porque essas coisas
têm que acontecer?
Sopra daí o sorriso gostoso,
prá amenizar meu desgosto
e desse pesadelo acordar!
Agora, num apelo,
o mar vem desabafar:


Baiano lindo, ajeitado,
com seus cabelos brancos,
e tanta coisa prá contar,
numa fala sossegada,
tão difícil de encontrar.
Adeus velho querido,
me deixas entristecido,
nas areias vou chorar,
e mais verde vou ficar,
mansamente murmurando
a música que fez prá mim
"É doce morrer no mar,
nas águas verdes do mar.
Chuaaaaaá...chuaaaaaaaá...
Prá mim...prá mim...

Certa vez...

Era uma vez...
Um sapo que virou príncipe.
Hum...Não.
Era uma vez...
Um príncipe que virou sapo.
Hum...Tudo já muito contado.
Certa vez...
um poeta, aproximou-se de uma
mulher triste e disse:
Eis-me aqui, para servir-te,
dou-te papel e pena,
o restante é contigo...
Desde aquele instante,
dela tornou-se amigo.
Ela conta-lhe tudo:
a mais simples lembrança,
ao maior absurdo.
Êle a entende, êle a ama,
enche-a de esperança.
Era uma vez, um poeta,
uma mulher inquieta,
que concordou:"Tudo vale a pena..."
Nunca mais chorou,
sua alma ampliou...
Essa mulher, chama-se Helena.

sábado, 9 de agosto de 2008

Atalho

Estava andando distraída,
conversando com meus anseios.
E assim fui indo, entre apelos,
quando, de repente,
encontrei uma parede,
não, não, era um muro,
a voz não saia, só um sussuro:
Aqui, tudo termina,
entrei em atalho sem saída!
Olhei, novamente, para o muro,
era alvejantemente branco.
Nenhum risco, nenhum rabisco.
Achei interessante e resolvi,
bem embaixo, num cantinho,
escrever bem fininho:Paz!
Voltei para trás,
saindo, o branco me seguia.
Pus-me a cismar,
branco...contém todas cores...
Cheguei em casa, peguei tela,
branca , fui cobrindo-a de amarelo,
vermelho, azul, violeta, verde, rosa,
tudo que de dentro de mim saía,
dei-me conta do arco-íris que pintara,
era isso que o muro me falara!
Às vezes, em atalhos, descobrimos,
a riqueza contida em nossa alma,
que por ignorância, a cobrimos,
mas se cremos, achamos ,de algum jeito,
os meios, para tornar a despertá-la!
Bendito atalho!

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Lúcida embriaguez

Convidei Dionisio para um passeio.
Tomei todas, rodopiei em devaneios.
Neles dancei, dancei,
chorei, chorei,
nó da garganta se desfazia.
Cantei, cantei, como cotovia.
Sentí a hora e a vez,
de finalmente ser feliz.
Isto estava em mim
e não via, só lamentos conseguia.
Ah! mortal desavizada,
tens, muito a aprender,
os caminhos estão aí ,
para percorrer.
Vamos, dispa-se dessa
inútil tristeza,
e completamente nua,
sorria, sorria para a lua,
e sentirás com certeza,
que a verdadeira embriaguez,
é a tua aliada sensatez.
Dionisio, mais uma taça,
hoje, alcancei uma graça!!!

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Faxina

Escorre pelas vidraças,
pingos d'água, é o céu,
fazendo faxina.
Escorre pelas minhas faces,
lágrimas, é minha alma,
precisando de faxina!

domingo, 3 de agosto de 2008

Pobre Narciso

Cobre o corpo com lençóis de mágoa,
tentando esconder a dor
que fere e maltrata,
sua pobre alma disbaratada,
crença ingênua que não acaba,
vagando em brumas de amor,
solta, como náufrago sem rumo,
caido no mar revolto e profundo,
ansiando encontrar a praia, seu refugio,
beijar a areia, roçando os lábios,
agradecendo, embora moribundo,
ter encontrado, ainda que tardio,
o espelho de uma vida que sonhara.